terça-feira, 24 de julho de 2012

Ensaio Sobre a Cegueira (Livro)

Capa
SARAMAGO, José. Ensaio Sobre a Cegueira. 6 ed. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
Subitamente, uma cegueira acomete um motorista parado no sinaleiro. Os outros motoristas buzinam, xingam o homem que não anda com seu carro. Um pequeno alvoroço começa quando ele diz: “Estou cego”. A partir dali começa um caos, os primeiros problemas.

Ensaio Sobre a Cegueira é o nono romance de José Saramago, lançado em 1995, e um dos mais famosos e brilhantes. Nele, o autor quer dar uma resposta à sociedade perversa que se criou com o Capitalismo. Saramago quer que nós reconheçamos como somos maus. O livro é carregado do pessimismo típico do autor.


Saramago tem um jeito muito peculiar de escrever, pouca pontuação, poucos parágrafos, as falas de personagens, ao invés de parágrafo, travessão e letra maiúscula; vírgula e letra maiúscula. Causa um estranhamento, a princípio de difícil compreensão, mas depois cativa, fascina – pelo menos a mim, gosto muito do seu estilo.

Dizem que a cegueira é negra como se estivéssemos trancados num quarto escuro. Esta, diferentemente, é branca como leite. Além disso, ela é transmissível, altamente contagiosa, um pequeno contato e se está cego. Em pouco tempo a misteriosa cegueira se alastra por toda a cidade.

A cegueira branca pode ser o excesso de informações que nos chegam todos os dias, a toda hora, um excesso de luzes que não nos deixa enxergar. Temos muitas informações e sabemos muito pouco, talvez, cada vez menos.

Os cegos são jogados em um manicômio abandonado, sob pena de morte se abandonarem o local. Aí está uma crítica, um questionamento para nós, de José Saramago à sociedade: por que um manicômio? Somos loucos? Nossa sociedade caminha para a loucura?

No manicômio superlotado, o homem reaviva seus extintos mais primitivos e volta a ser um animal. Mata, rouba, extorque, estupra. A única salvação para os cegos é a mulher do médico oftalmologista que não cegou. Mais um, entre tantos, questionamento: por que ela não cegou? Pureza? Não. Desapego? Tão pouco. Maior consciência? Talvez.

Ela está prestes a cegar também, acha que a qualquer momento cegará. Pode ver toda a dor do homem, o caos ao qual chegaram, é a que mais sofre, e por não ter cegado se dá a responsabilidade de cuidar dos cegos, infringe sua ética e moral para protegê-los. Ela precisa ter sabedoria para lidar com situações constrangedoras, inadmissíveis.

É uma obra que nos faz refletir sobre a vida, sobre a sociedade e o mundo que criamos. Revela-nos a incapacidade do homem de lidar com os problemas, se organizar,  se unir em amor e comunhão para vencer momentos tão adversos. Será que somos tão ruins assim?

É uma história que nos faz sofrer, angustia o mundo decadente que vemos pelos olhos da mulher do médico. Parece que aquele sofrimento não terá fim, somente resta a eles se adaptarem. O leitor não sossegará até conhecer o surpreendente final.

Um livro para ser lido várias vezes, a cada leitura podemos descobrir mais, perceber mensagens que antes não notamos e assim tirarmos mais lições para a vida. Quem ainda não conhece José Saramago é um ótimo começo!

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